Renault
Se existe uma conquista que só existiu por eu não olhar para as probabilidades, essa é minha história na Renault.
As dinâmicas eram aquela coisa brutal, com 15 candidatas para uma vaga, tentando ali demonstrar que era competitiva, sem ser agressiva, sociável, sem ser acessível demais. Aquelas bobagens que o RH acreditava (desculpa, RH, mas é verdade).
E, contra todas as probabilidades, fui contratada para uma multinacional, cuja língua oficial era inglês, seguida de pertinho pelo francês sem ser fluente em nenhum dos dois idiomas. Fui contratada para uma função que exigia formação superior completa, mesmo estando no terceiro ano da faculdade. Mas não termina ai! Durante alguns meses eu fui assistente dividida entre dois gerentes que se odiavam mutuamente. A sobrevivência dependia de não compartilhar informações, mesmo trabalhando para para dois inimigos.
Fui promovida! E, novamente contra todas as possibilidades, eu era responsável pelo Budget Peças de Reposição – análise e precificação de peças de toda a linha Renault no Brasil.
Única mulher na função, única que não tinha formação em engenharia mecânica, eu era a representante Renault nos Comitês da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), discutindo dados de mercado, fomento à inovação e relações internacionais.
Uma fase CLT rica! Contratar JQuest para festa exclusiva em resort? Claro. Luciano Huck como MC? Óbvio que podemos pagar. Mas para falar sobre um aprendizado mais sério, pude acompanhar de perto a estratégia de uma grande marca num novo mercado. O equilíbrio entre custo X competitividade X participação de mercado é uma equação dificílima de resolver. É assim que se aprende que planejamento estratégico leva ao sucesso. Saber exatamente quanto você pode sacrificar de margem para ganhar mercado faz diferença. Buscar redução de custos todos os dias, faz diferença. Construir uma marca desejada faz diferença. Tudo faz muita diferença!
Nissan
Depois de dois anos, a Nissan chegou ao Brasil e, como a aliança Renault Nissan tinha sido recém constituída, fui transferida para apoiar a criação da área de inteligência de mercado da nova marca.
Quando você trabalha dois anos com times franceses, sendo essa sua primeira experiência corporativa numa multinacional, recebe, praticamente, um treinamento para ser uma francesa tropicalizada. Os profissionais franceses são excelentes colegas de trabalho e eu os aplaudo sempre: equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Equipes francesas entregam tudo com muita qualidade, mas não ficam até as 22:00 na empresa, pois tem o compromisso de jantar com a família.
E aí veio o choque de realidade: trabalhar com japoneses, cujos horários eram insanos, o ritmo era alucinante e a pressão por resultados era como um bom dia educado.
Área montada, estudos e análises bem estruturados, minha querida chefe esperou meu último dia de trabalho antes das férias para avisar da minha demissão. Sem despedidas, sem motivo aparente. A máquina corporativa funciona assim mesmo. Se alguém mais barato dá conta é só trocar.
À época, a campanha de marketing era Shift_the future e até combinou, né?